O autor atrás do biombo: A Intentio Auctoris segundo Umberto Eco

Patrícia Cristine Hoff

Resumo


RESUMO: Em seu Pós-escrito a O nome da rosa, Umberto Eco diz que, para que o seu romance pudesse ser contado na Idade Média e não sobre ela, teria que narrar através da boca de um cronista da época. Para tal, dever-se-ia ter em mãos algo que algum cronista medieval tivesse escrito. A história, naturalmente, diz ele, só poderia começar com um manuscrito. No prólogo de O nome da rosa, livro publicado em 1980, o autor conta que chegou, no ano de 1968, a um possível manuscrito de um abade do século XIV (Adso de Melk), traduzido por um erudito seiscentista (Mabillon) e publicado na França em 1842 (Vallet) (2003, p.13). Ao voltarmos ao Pós-escrito..., sabemos que Eco encontra exatamente nessas circunstâncias a máscara de que precisava, pois estaria enfim “protegido” no quarto nível de encaixe narrativo em que se colocava, dentro dos outros três: “eu digo que Vallet dizia que Mabillon dissera que Adso disse...” (1985, p.20). Em outro momento, ao comentar propriamente sobre a narração do romance, Eco retorna à noção de níveis narrativos para introduzir a imagem do biombo como o lugar interposto entre o autor e seu texto, entre o autor e seu(s) narrador(es) (1985, p. 31). Para resolver o problema do narrador, Eco cria então a metáfora do biombo. O biombo seria uma metáfora do trabalho do narrador. Um biombo como objeto concreto tem por função esconder e revelar ao mesmo tempo. Sua dubiedade é, assim, recíproca: a de revelar sem expor totalmente e a de esconder sem bloquear a visão do todo. Com essa imagem, podemos argumentar que Eco esteja mais uma vez às voltas da relação entre abertura e limite, entre o que o texto suscita (pode suscitar) e o que ele exclui. Assim, também a intentio auctoris se coloca como um dos problemas da interpretação, menos relevante para Eco, é verdade, do que o elo dialético entre a intentio operis e a intentio lectoris, mas não menos interessante para a reflexão sobre a leitura de textos abertos, nos quais a intenção do autor assumiria tão somente a função de uma estratégia textual.

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