PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA POPULAÇÃO PRIVADA DE LIBERDADE NOTIFICADAS COM TUBERCULOSE NO RIO GRANDE DO SUL, 2014-2018

Dandára Costa Fanfa, Caroline Busatto, Djulia Rafaella Kist, Ygor Carvalho Dreyer, Lia Gonçalves Possuelo

Resumo


A tuberculose (TB) configura-se como uma doença que mais mata mundialmente, em que cada ano milhões de pessoas adoecem. A População Privada de Liberdade (PPL) é a mais acometida, considerando que as condições em que vivem, com superlotação e má ventilação, criem um ambiente favorável para a disseminação dessa infecção. Relata-se que a PPL possui 28 vezes mais chance de desenvolver a infecção quando comparada com a população geral e, de 2000 a 2017, a taxa de aprisionamento obteve um aumento de 150% no Brasil, superando até o crescimento populacional. Considerando isso, o estudo tem como objetivo descrever as características sociodemográficas e clínicas, bem como avaliar os indicadores de TB da PPL diagnosticada no período de 2014 a 2018 no estado do Rio Grande do Sul (RS). Este é um estudo transversal retrospectivo, com dados obtidos do Sistema de Agravos e Notificação (SINAN) e do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (INFOPEN). As análises descritivas foram realizadas no software SPSS v. 20, sendo os resultados expressos em números absolutos e percentuais. Foram analisadas as variáveis: idade, sexo, escolaridade, tabagismo, HIV, raça, forma da doença, tipo de entrada, baciloscopia, cultura, desfecho do tratamento e tempo de aprisionamento. O estudo contemplou 1801 PPL notificadas com TB, sendo que destes, 1748 (97,1%) eram do sexo masculino e 858 (47,6%) tinham idade de 25 a 34 anos. Em relação a cor da pele, 1095 (60,8%) eram brancos, e 935 (51,9%) tinham entre 5 a 8 anos de estudo. Entre agravos associados a TB, 308 (17,1%) eram HIV positivo, 364 (20,2%) usuários de drogas e 531 (29,5%) eram tabagistas. A forma da doença foi majoritariamente pulmonar com 1713 (95,1%) casos notificados, a baciloscopia foi confirmatória em 1043 (57,9%) e a cultura não foi realizada em 1096 (60,9%) casos. Um total de 1083 (60,1%) eram casos novos e 259 (14,4%) eram casos de recidiva. Quanto aos desfechos, 959 (53,2%) obtiveram alta por cura, 332 (18,4%) transferência e 270 (15%) abandonaram o tratamento. No que se diz respeito ao teste de sensibilidade, 51 (2,83%) eram resistentes, sendo destes, 26 (51%) multidroga resistentes. No entanto, em 1509 (83,45%) casos não havia informações a respeito do teste de sensibilidade. A incidência de TB variou de 176,64 a 975,14 casos/100 mil privados de liberdade, e a mortalidade, por sua vez, de 0 a 16,59 óbitos/100 mil privados de liberdade. Em relação ao tempo de aprisionamento, 681 (37,8%) apenados estavam em situação de privação de liberdade por mais de 37 meses, seguido de 568 (31,5%) com menos de 12 meses. Sendo assim, a PPL apresentou altas taxas de incidência. No período estudado, a coinfecção TB/HIV obteve uma média de 3,38% e atingiu taxas menores de coinfecção quando comparado com a população geral. Outrossim, a taxa de mortalidade na PPL superou a população geral. Os apenados maioritariamente eram homens brancos, em idade economicamente ativa. Os esquemas terapêuticos e adesão do Tratamento Diretamente Observado seguem sendo cruciais para o aumento da taxa de cura, bem como a necessidade de qualificação das equipes envolvidas na assistência prisional.


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