O FENÔMENO DA DROGA E OS DISPOSITIVOS DE CUIDADO EM SAÚDE: PERCEPÇÕES DE ADOLESCENTES ESCOLARES

Kamilla Mueller Gabe, Laura Silva Geller, Letiane de Souza Machado, Rayssa Madalena Feldmann, Laís Machado Corrêa, Edna Linhares Garcia

Resumo


O indicador crescente do uso de álcool e outras drogas no Brasil e o contato cada vez mais precoce com essas substâncias têm chamado atenção para a necessidade do trabalho preventivo com adolescentes escolares, cuja etapa do desenvolvimento é considerada de risco para a adição. Nesse sentido, a pesquisa "Narrativa de adolescentes sobre drogas e os serviços de saúde mental CAPSia e CAPSad: intersecções possíveis no contexto de Santa Cruz do Sul" propõe a oferta de espaços em que seja possível compreender os sentidos produzidos pelos adolescentes acerca do fenômeno da droga e da drogadição, colocando-os em lugar de protagonismo dos seus saberes. Este recorte resulta de marcadores identificados nos grupos focais realizados em doze escolas públicas do município de Santa Cruz do Sul com adolescentes de 12 a 18 anos, no período de maio de 2018 a agosto de 2019. Em cada escola abrangida foram realizados três encontros nos quais foram utilizados recursos lúdicos como disparadores de diálogos, buscando fomentar a discussão e reflexão sobre a temática. Os dados obtidos nas escolas foram analisados à luz dos escritos de Mary Jane Spink acerca da produção de sentidos. Ao longo dos encontros e refletindo sobre os dispositivos e estratégias de cuidado ao usuário de álcool e outras drogas, foi possível identificar que, entre os adolescentes pesquisados, a drogadição é fortemente relacionada ao paradigma da abstinência. Nesse âmbito, sete dos doze grupos realizados mencionaram a internação, voluntária ou não, como medida de cuidado; quatro citaram a inserção em grupos religiosos e um apontou a melhora no policiamento como proposta para a prevenção ao uso de substâncias psicoativas; ainda, apenas quatro grupos de adolescentes referiram os serviços de saúde públicos como dispositivos de cuidado. Esse dado levantado, em conjunto com o limitado conhecimento dos adolescentes quanto à rede de saúde, sustenta a relação que esse público estabelece entre a drogadição e a segurança pública. Nesse sentido, entende-se que o fenômeno da droga é visto sob a lógica proibicionista, estando diretamente relacionado a um embate moral e de valores entre certo versus errado e bom versus mau; assim, os dispositivos citados nos grupos focais pressupõem o afastamento do sujeito do “mal” simbolizado pela droga. A não concepção da temática como um problema de saúde pública indica estar relacionada com o não aparecimento dos serviços de saúde como instâncias de cuidado, assim como pode indicar a insuficiência de protagonismo destes quanto à questão da droga nos territórios. Entre outras conclusões, baseadas nas informações trazidas pelos adolescentes, a pesquisa revela a necessária formulação de propostas que eduquem quanto à rede de saúde, visando maior propriedade e estreitamento de vínculos com essas instituições. 

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