A atividade leiteira em Minas Gerais: a sucessão está em risco?
DOI:
https://doi.org/10.17058/redes.v25i0.15087Palavras-chave:
Atividade Leiteira, Minas Gerais, Continuação da atividade leiteiraResumo
O Estado de Minas Gerais permanece como o maior produtor de leite do Brasil, apesar da clara estagnação em termos da sua capacidade produtiva. O presente artigo teve por objetivo analisar as características socioeconômicas e as práticas de gestão e manejo dos produtores de leite com e sem familiar trabalhando junto consigo na atividade leiteira. Utilizou dados secundários referentes aos Censos agropecuários de 1975, 1995, 2006 e 2017 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), como também, dados primários gerados a partir de um survey aplicado a 1.611 produtores de leite. A perspectiva teórico-analítica do estudo pautou-se na concepção de prática, compreendida como habitus herdado e adquirido. Os resultados da pesquisa revelaram diferenças entre os dois grupos de produtores analisado em termos: 1) do perfil socioeconômico; 2) do tipo de mão- de-obra empregada na propriedade; 3) da faixa de produção diária de leite e, 4) da diversificação das atividades econômicas. Entretanto, o perfil tecnológico de ambos os grupos de produtores não evidenciou contrastes expressivos. Concluiu-se que, embora tenha havido redução no número de estabelecimentos que praticavam a atividade leiteira, em Minas Gerais, entre 1975 e 2017, foi predominante entre os que permaneceram, a presença de familiar de outra geração trabalhando junto com o produtor na atividade. Embora as práticas de gestão e manejo do rebanho não tenham sido características de uma racionalidade econômica, os produtores com familiar o sucedendo na atividade leiteira apresentaram maior tendência à práticas pautadas pela racionalidade econômica.Downloads
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