A intermediação positiva e a digitalização na construção de mercados territorializados da agricultura familiar:
uma análise de experiências do sul e nordeste do Brasil
DOI:
https://doi.org/10.17058/redes.v29i1.19395Palavras-chave:
Mercados, Agricultura Familiar, Digitalização, Relação produção-consumoResumo
O objetivo deste trabalho é analisar, comparar e refletir sobre as dinâmicas e desafios enfrentados pela digitalização em mercados territorializados da agricultura familiar, com base nos casos do Trii Ecológico (RS) e o Grupo de Consumo do Recôncavo (BA). Tendo como base referencial a tipologia dos mercados da agricultura familiar, as entrevistas realizadas refletem o forte enraizamento social do Trii Ecológico, caracterizando-se como um empreendimento típico dos mercados territoriais. Já o GCR é um canal vinculado aos mercados de proximidade em que há uma interação direta entre agricultores e consumidores e conta com o apoio da UFRB para seu funcionamento. Em ambos os casos, o uso de TICS se dá majoritariamente como ferramenta de comunicação e divulgação, havendo baixo índice de escolarização entre as famílias agricultoras e limitações de conhecimento no uso de aplicativos mais complexos. Outro elemento de destaque em ambos os casos é um forte protagonismo das mulheres, tanto entre as famílias agricultoras como nas consumidoras, estando inclusive na intermediação no caso do Tri Ecológico. Conclui-se que, seja pela ausência de infraestrutura qualificada, ou falta de habilidades, os intermediadores se tornam facilitadores do acesso a TICS e mediadores das relações entre produção e consumo. A atuação desses atores, que se denomina uma “intermediação positiva”, é o que permite a manutenção das experiências, expandindo o alcance dos produtos da agricultura familiar e facilitando uma alimentação saudável às consumidoras.
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