Espaços ambíguos e a inovação neoliberal contemporânea: o caso do Merkén

Autores

DOI:

https://doi.org/10.17058/redes.v25i1.14389

Palavras-chave:

, Inovação, Ator Social, Materialidade, Pimenta, Chile

Resumo

Considerando a exploração dos efeitos materiais de exercícios do poder relacionados à inovação agroalimentar, abordamos a emergência de espaços de ambiguidade sócio material, surgidos da exploração do potencial econômico da agregação de valor a alimentos territoriais. A ilustração empírica vem do caso do Merkén, que é uma combinação de pimentas defumadas e moídas, cuja origem é atribuída ao povo Mapuche, no Chile. O reconhecimento das potencialidades do alto valor gastronómico deste condimento o transforma em uma inovação comercial, fazendo surgir tensões entre as formas de produção industrial, semi-industrial e a artesanal. A última, baseada em receitas singulares desenvolvidas por famílias camponesas, provém da relação biocultural entre os atores sociais e o ají-merkén, destacando-se o conhecimento dos ecotipos de pimenta, seu cultivo e do detalhado processo de defumação, além de relações consolidadas em mercados regionais. Identifica-se que, inovar para além do ‘comercial’, tem a ver com desafio de superar normas padronizadas, que tendem a provocar perda da integridade que identifica o produto com seu território. O artigo, então, mostra que a materialidade envolvida na inovação tem a capacidade de transformar relações de poder e a autoridade que constituem produtos territoriais; e que os espaços de inovação têm natureza ambígua, oscilando entre as vantagens que o mercado oferece e uma multiplicidade de reconfigurações da materialidade e da organização social situada.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ACAMPORA, T.; FONTE, M. Productos Típicos, Estrategias de Desarrollo Rural y Conocimiento Local. Revista Ópera, n.7, p. 191-212, 2007.

AGUILERA, I. De la cocina al Estado nación: El ingrediente mapuche. Barcelona: Icaria, 2016. (Observatorio de la Alimentación, 5)

ARCE, A. Negotiating Agricultural Development Entanglements of Bureaucrats in Rural Producers in Western Mexico. Wageningen: PUDOC, 1993. (Wageningen Studies in Sociology).

ARCE, A.; CORTÉS, M. El Merkén: El condimiento que pica el Chile. In: CORTÉS, M.; PERTUZÉC, R. (orgs.) Vida e Historia del Merkén de Santa Juana, Valle de Catiri. Santiago: Universidad de Chile, 2019. P. 2-15 (Serie Ciencias Agronómicas)

ARCE, A.; LONG, N. (eds.) Anthropology, development, and modernities: exploring discourses, counter-tendencies and violence. London: Routledge, 2000.

ARCE, A.; LONG, N. Re-positioning knowledge in the Study of Rural Development. In: SYMES, D.; JANSEN, A. J. Agricultural Restructuring and Rural Change in Europe. Wageningen: Agricultural University of Wageningen, 1994, p. 75-86.

ARCE, A.; MARSDEN, T. The Social Construction of International Food: A new research agenda. Economic Geography, v. 69, n. 3, p.293-311, 1993.

ÁVILA, R.; ALVAREZ, M.; MEDINA, X. (coord.) Alimentos, cocinas e intercambios culinarios: confrontaciones culturales, identidades e resignificaciones. Guadalajara: Universidad de Guadalajara, 2015.

BESTOR, T. How Sushi Went Global. Foreign Policy, n.121, p. 54-63, 2000.

BLANCO, G.; GASTEL, J. van; LAGARRIGUE, A. Assembling responsible food markets: the case of Cooperativa La Manzana in southern Chile. In: SHERWOOD, S.; ARCE, A.; PAREDES, M. (eds.). Food, Agriculture and Social Change: The Everyday Vitality of Latin America. London: Routledge/Earthscan, 2017, p.184-197.

CARVALLO, D.A. Estrategia comunicacional para la empresa Chili from Chile. Lincenciado, Universidad del Desarrollo, Facultad de Diseño, Chile, 2016. Disponível em: <https://issuu.com/danilocarvallo/docs/memoria_de_titulo> Acesso em: 04 fev. 2019.

CHARÃO-MARQUES, F., SCHMITT, C. J.; OLIVEIRA, D. Unfolding agencies and associations of agroecology networks. In: SHERWOOD, S.; ARCE, A.; PAREDES, M. (eds.). Food, Agriculture and Social Change: The Everyday Vitality of Latin America. London: Routledge/Earthscan, 2017, p.126-140.

COOLE, D.; FROST, S. New Materialism: Ontology, Agency, and Politics. Durham: Duke University Press, 2010.

CORTÉS, M.; Boza, S. Patrimonio Agroalimentario en Sur de Chile. Elementos para el desarrollo territorial. Santiago: Universidad de Chile, 2017. (Serie Ciencias Agronómicas)

DIARIO ESTRATEGIA. Apertura comercial y el boom de la comida étnica potencian la industria de condimentos. Diario Estrategia. Santiago, 20 dezembro, 2004.

FIA. Estudio de mercado nacional e internacional de ají. Santiago: Fondo de Innovación Agraria, 2010.

FREIDBERG, S. French beans for the masses: a modern historical geography of food in Burkina Faso. Journal of Historical Geography, v.29, n. 3, p. 445-463, 2003.

GEELS, F. W. From sectoral systems of innovation to socio-technical systems. Insights about dynamics and change from sociology and institutional theory. Research Policy, n. 33, p. 897-920, 2004.

GOLDFRANK, W. Fresh demand: the consumption of Chilean produce in the United States. In: GEREFFI, G.; KOREZENIEWICZ, M. (eds.) Commodity Chains and Capitalism. Connecticut: Greenwood Press, 1994.

HOBART, M. (ed.). An Anthropological Critique of Development: The Growth of Ignorance. London: Routledge, 1993. Disponível em:

<http://bibliotecadigital.fia.cl/bitstream/handle/20.500.11944/1860/ESTUDIO_DE_MERCADO_NACIONAL_E_INTERNACIONAL_DE_AJI.pdf> Acesso em: 23 fev. 2019.

INTA. Alimentos y cocinas regionales de América: Resumen del primer foro, Buenos Aires, 2017. Buenos Aires: Ediciones INTA, 2018. Disponível em: http://www.forodealimentosycocinasregionales.com Acesso em: 23 out. 2019.

KEMP, R.; SCHOT, J.; HOOGMA, R. Regime shifts to sustainability through processes of niche formation: the approach of Strategic Niche Management. Technology Analysis & Strategic Management, v. 10, n. 2, p. 175 – 196, 1998.

LONG, N.; LONG, A. (eds.) Battlefields of Knowledge: The Interlocking of Theory and Practice in Social Research and Development. London: Routledge, 1992.

MONTECINOS, S. (ed.) Cocinas, Alimentos y Símbolos: Estado del arte del patrimonio culinario en Chile. Santiago: Consejo Nacional de la Cultura y las Artes, 2017.

MOORE, S. F. Law and Social Change. The Semi-Autonomous Social Field as an Appropriate Subject of Study. Law and Society Review, n. 7, p. 719-746, 1973.

OLIVIER de SARDAN J.-P. Anthropologie et développement: essai en socio-anthropologie du changement social. Paris: Karthala, 1995.

OYARZÚN, M.T; RIVEROS, H.; VANDECANDELAERE, E. Cómo promover la calidad vinculada al origen para contribuir al desarrollo en América Latina: enseñanzas de cuatro casos piloto. Santiago: FAO, 2013. Disponível em: <http://repiica.iica.int/docs/B3269e/B3269e.pdf> Acesso em: 02 fev. 2019.

PINTO, H. S.; SIMÕES, R.A. Cultura Alimentar como Patrimônio Imaterial da Humanidade: desafios e oportunidades para a gastronomia brasileira. Brasília: Núcleo de Estudos e Pesquisas/CONLEG/Senado, 2016. (Texto para Discussão no 195). Disponivel em: Acesso em: 26 out. 2019

POTTIER, J. Practising Development: Social Science Perspectives. London: Routledge, 1993.

ROSEBERRY, W. The Rise of Yuppie Coffees and the Reimagination of Class in the United States. American Anthropologist, v. 98, n. 4, p. 762-775, 1996.

STRATHERN, M. Partial Connections. Maryland: Rowman &Littlefield Publishers, 1991.

Downloads

Publicado

2020-01-10

Como Citar

Arce, A., & Charão-Marques, F. (2020). Espaços ambíguos e a inovação neoliberal contemporânea: o caso do Merkén. Redes, 25(1), 9-31. https://doi.org/10.17058/redes.v25i1.14389

Edição

Seção

Geração de Conhecimento e Inovação na Agricultura Familiar